terça-feira, 14 de maio de 2013

COMPRANDO CONSCIÊNCIA



COMPRANDO CONSCIÊNCIA
José Acaci



Um político tarimbado,
raposa velha de ação,
ganhador de eleição.
Um enganador safado,
desses que fala encanado,
entrou no bar da pracinha
de numa cidadezinha
e gritou:-quem quer cachaça?
quem quiser bebe de graça,
hoje a conta vai ser minha!

Passou a tarde todinha
pagando cana e falando,
e os bebuns se embriagando
e tomando tudo que vinha.
Ele dizendo que tinha
dinheiro pra se manter
influência no poder,
e outras qualidades dele,
e que quem votasse nele
não ia se arrepender.

Prometeu pra Zé Jumento
um milheiro de tijolo,
e pra Manezin do Bolo,
quatro sacas de cimento.
prometeu comprar um cento
de ripa pra Zé Migué,
um sacolão pra Mané,
remédio pra Zé de Bana,
e tome promessa e cana,
risada, fuzaca e mé.

No meio da farra e da loa
um menino entrou no bar,
começou a espiar,
e viu aquela pessoa
que bebeu, ficou à toa,
e caiu ali no chão
perto do pé do balcão.
O bebum esparramado
era o pai desse coitado
que ninguém deu atenção.

Nem viram o menino entrar,
e quando ele foi entrando
ficou num canto esperando
pra ver o pai acordar.
E ele ficou a escutar
a conversa do doutor,
que naquele seu furor
nem via as águas caindo
dos olhos do tal menino
que chorava de amor.

Nesse instante, do outro lado,
ouviu-se de lá da esquina
um apito da buzina
de um motão avermelhado.
Um amigo do deputado
passando pela tangência,
pra mostrar eficiência,
gritou, sem descer da moto:
tu estás comprando voto,
ou pagando penitência?

Foi um momento bonito
quando o povo calou-se
e o menino levantou-se
e respondeu com um grito
mais forte do que o apito.
Do fundo da inocência.
delatou a intransigência
quando olhou pro pai no chão
e disse de supetão!
tá comprando consciência.
FIM
Contatos com o autor: espacodocordel@gmail.com

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