quinta-feira, 30 de maio de 2013

QUARTO RESUMO DE DEZ CORDÉIS

       A poesia Lição Pra Mudar o Mundo nos faz refletir sobre as nossas reclamações em relação às outras pessoas e sobre as coisas que nos rodeiam, e lembra que, antes de tentar mudar os outros, nós devemos tentar mudar a nós mesmos, e a poesia Achei a Felicidade mostra que a felicidade depende de tomadas de decisões muitas vezes muito simples mas que fazem uma grande diferença nas nossas vidas.


Veja três estrofes de Lição Pra Mudar o Mundo:



Nos tempos da mocidade,
com a mente fervilhando,
eu só vivia pensando
sobre essa desigualdade.
A dura realidade
que a gente no mundo avista.
Organizei uma lista,
e com um desejo profundo,
fui tentar mudar o mundo
com meu plano de conquista.

Passei um tempo lutando,
mas fiquei desanimado.
Vi um país destroçado.
Vi o planeta esquentando.
Vi guerra e fome matando
aquele povo infeliz.
Sem conseguir o que quis
eu decidi num segundo:
Vou deixar de lado o mundo,
e vou mudar meu país.
(...)

Se você quiser mudar
o mundo que lhe rodeia,
não precisa cara feia
e nem precisa arengar.
basta você aceitar
que você não é perfeito.
E que só existe um jeito,
É simples, mas é profundo:
“-Só tem mudança no mundo,
quando se muda o sujeito.”
(...)

     No ano de 1988 o meu pai emprestou o seu Dicionário Tupi Guarani, de Silveira Bueno, para Juscio Marcelino, artista plástico macaibense. Em 1990 meu pai morreu e somente 18 anos depois o livro foi devolvido a mim, intacto. Ninguém da família sabia onde estava o livro que papai tanto folheava. Comemorando a recuperação do livro, li e reli, anotei vários vocábulos e assim nasceu o cordel Nomes Indígenas - Pequeno Dicionário em Cordel.





Veja algumas estrofes:



Caa, palavra pequena,
significa floresta.
Floresta branca é caatinga,
que a sua planta é modesta
por ser rala e pouco densa
pra caça também não presta.

Poranga significa
o que é bonito e formoso.
Abaporanga é o homem
que é bonito e vistoso,
representa o que é belo,
traduz o que é charmoso.

No tupi o termo peba
é tudo que é achatado,
representa o que é baixo,
ou que está rebaixado,
o peixe que for assim
por pirapeba é chamado,

Outra terminologia
bem conhecida é piranga,
significa vermelho,
e é sinônimo de pitanga,
caju vermelho, portanto
se chama cajupiranga.
 (...)

      No ano dois mil e sete aconteceu um acidente ecológico que matou quarenta toneladas de peixes no Rio Potengi, principal rio potiguar, lembrando das pescarias que fiz nos meus tempos de criança, descrevi no cordel Nosso Rio Potengi e o Desastre Ambiental as lembranças de um rio limpo e agradável, cheio de mangueiras e manguezais nas suas margens e fiz o contraponto mostrando a situação atual do rio.



Veja alumas estrofes:



Na beira do manguezal
tinha camarão pitu,
unha de véio, siri,
chama maré, aratu.
E quando a maré secava,
era que a gente pescava
caranguejo e sururu.

Agulha em cima da água...
Coisa que nunca mais vi!
Goiamum de meio quilo,
era comum por ali.
ostra de todo tamanho,
sem falar do belo banho
na pescada do siri.
(...)

No ano dois mil e sete,
no início de agosto,
o povo riograndense
teve um tremendo desgosto.
Sofremos um grande mal,
um desastre ambiental
verteu água em muito rosto.
(...)

Assisti olhos chorando
e vi as mãos calejadas.
Eram mãos de pescadores
limpando as faces molhadas,
ao ver os peixes boiando,
e o Potengi vomitando
as quarenta toneladas.
(...) 

      O Anel da Pedra Preta é um cordel para crianças. É daqueles que, quando bem contado, deixa todo mundo de olho arregalado esperando para saber o que vai acontecer na sequência da história.






Veja três estrofes:
(...)
Com cinco metros de altura,
os olhos da cor de fogo
o corpo fazendo um jogo
que eu me espantei com a feiúra.
Aquela serpente escura
fedia a carne estragada.
Ficou me olhando parada,
e eu fiquei sem ação,
quis correr, mas não deu não,
quis falar, não saiu nada.

Começou a se bulir
pronta para me pegar,
me morder e me arrochar
e depois me engolir.
Quando eu pensei em fugir
a cobra me deu o bote
como quem pega um caçote
agarrou-me pelo meio
que ali naquele aperreio
eu fiquei só o pacote.

A cabeça aproximou-se
e eu fiquei ali parado
como que hipnotizado,
pensei comigo:-“Danou-se.”
Meu cabelo arrepiou-se
me deu um tremor na mão,
um tum tum no coração,
e no corpo um trimilique
que quase dá-me um chilique
e eu caio morto no chão.
(...)

      Natal, capital do RN, se orgulhava de ter o ar mais limpo do Brasil. Depois de assistir a uma reportagem sobre o aumento do número de veículos em Natal resolvi pesquisar e descobri que os potiguares já não têm motivos para se orgulhar. Assim nasceu o folheto O Ar de Natal e As Estradas do País.




Veja três estrofes:
(...)
Há muito tempo que ouvimos
falar do ar de Natal...
Que é o mais puro do mundo,
“etcétera” e coisa e tal.
É só um tema egoísta
pra atrair o turista
para a nossa capital.

O nosso ar já foi limpo
merecendo um monumento...
Porém, com tantas peruas
liberando escapamento
com dióxido de carbono,
Já despertamos do sono,
e estamos noutro momento.
 (...)
 São centenas e milhares
de canos de escapamento,
liberando o “cê-ó-dois”  (co2)
jogando a todo momento,
mais fuligem, mais fumaça,
mais doença, mais desgraça,
mais dor, e mais sofrimento.
(...)

        O folheto a seguir traz duas histórias engraçadas: O Bicho Caiu de Lado, o relato de uma história que foi escrita num hospital, em São Paulo do Potengi,  e, O Sonho de Joãozinho, o meu cordel mais pedido em shows e apresentações, que conta a história de um menino que sonhava ser ladrão e resolveu ir para o Rio de Janeiro pra ser ladrão de verdade, mas, no caminho do Rio, o caminhão no qual ele ia de carona passou por Brasília, o caminhão se quebrou e...



Três estrofes de O Bicho caiu de Lado:
(...)


Quando ele viu a enfermeira
Bonita, formosa e bela
Ficou que nem um cachorro
Quando encontra uma cadela
Disse: “- já tô relaxado”
E ficou de olho grelado
Nas curvas do corpo dela.

Ela pegou duas luvas
Botou uma em cada mão
Pegou gaze, soro, iodo
E um chumaço de algodão
E com muita experiência
Mostrando ter competência
Foi logo entrando em ação.

Baixou a calça do velho
Com firmeza e com carinho
De repente apareceu
Aquele treco murchinho
Ela encharcou o algodão
E alisando com a mão
Foi limpando o bigulinho.
 (...)

E três de O Sonho de Joãozinho:

(...)

Aprendeu a comprar voto
A fazer filiação
A mexer com caixa dois
Pagar propina a ladrão
Aprendeu as espertezas
E todas as safadezas
Que têm na corrupção

Em troca de alguns favores
Seu nome entrou no cenário
Num ano foi assessor
No outro foi secretário
De um conhecido prefeito
Até que enfim deu um jeito
De chegar lá no plenário

E o seu sonho de criança
Hoje está realizado
O sonho de ser bandido
Conhecido e respeitado
Foi aos poucos dando certo
Por ser um bandido esperto
Joãzinho hoje é deputado.
 (...)

       O Burro é o Ser Humano é um cordel é fabuloso. O grande poeta Antonio Francisco é autor do cordel Os Animais tem Razão, no qual ele escuta a conversa de vários animais sobre a maneira como o ser humano está tratando o nosso planeta. O burro, a vaca, o morcego, a cobra, o cachorro ,e o rato fazem uma conferência com muito bom humor e irreverência. No cordel O Burro é o Ser Humano eu me encontro com o Burro da poesia de Antonio Francisco e travamos uma conversa sobre a situação do Rio Pitimbu e a construção de condomínios na sua margem.
 


Veja algum,as estrofes:

(...)


Fiquei todo arrepiado
quando o jumento me olhou
chamou a minha atenção
e para de mim cochichou:
“-Não se assuste comigo,
 você não corre perigo.
 E depois continuou:”

“-Você meu caro poeta,
 com esse seu sentimento
 foi por Deus abençoado.
 E agora, nesse momento,
 vai ter a capacidade
 e a oportunidade
 de escutar um jumento.”

Eu senti um arrepio,
o suor veio na palma,
ao escutar o jumento
senti um frio na alma,
meu coração disparou,
mas o jumento falou:
“-Meu poeta, tenha calma!”

Olhou-me com a grandeza
de um sábio de Alexandria,
e disse: “-O que o homem faz
comigo é uma covardia,
mas eu lhe dou o perdão
porque no meu coração
só tenho paz e alegria.”
(...)

      O Cabelinho Crespo (Ou A Mulher que Enganou o Diabo)é uma história que foi publicada por Deífilo Gurgel no Livro Introdução à Cultura do RN. A história ele garimpou do Sr. Manoel de Joana, na comunidade de Alcaçuz, quando ele fazia pesquisas sobre a cultura potiguar nos anos 80. 


Veja três estrofes:
(...)



Li num livro de cultura
de Deífilo Gurgel,
esse conto popular
e passei para o cordel,
mantendo a sua estrutura,
vou resgatando a cultura
e cumprindo o meu papel.

Senhor Manoel de Joana,
um senhor já falecido,
do povoado Alcaçuz,
um homem muito querido,
sempre contava esse conto,
e no cordel eu reconto,
pra não ficar esquecido:

“Era uma vez um homem
que estava na pior,
mas se a pobreza era grande,
a ganância era maior.
a Jesus, nada pedia.
quanto mais ele sofria
sua fé era menor.
(...)

      O cordel O cajueiro de Pirangi é um dos títulos mais vendidos entre todos os folhetos de minha autoria. Publicado pela primeira vez em 2005, foi lançado na III Bienal do Livro de Natal, que aconteceu no piso superior MidWay Mall. O cordel fala da origem indígena do nome Pirangi, fala da relação do nome do rio com a praia e o cajueiro e da importância econômica e turística desse ícone do Rio Grande do Norte.






Trata-se de um cajueiro
bonito, robusto e forte;
impressiona quem olha
o seu grandioso porte
pra conhecer venha aqui
na praia de Pirangi
no Rio Grande do Norte.
(...)
O nome que era do rio 
batizou a enseada 
e a praia de Pirangi 
sentiu-se homenageada 
numa total perfeição 
como uma santa união 
a praia foi batizada.

O galho do cajueiro 
espalha-se pelo ar  
depois se encosta ao chão 
voltando a enraizar 
fixa no chão e levanta 
parecendo que outra planta 
nasceu naquele lugar 
 (..)

      Passando um final de semana no assentamento Zabelê,escutei muitas histórias no alpendre da casa de Raquel, minha querida cunhada, que Deus a tenha. Uma dessas histórias me inpirou a escrever  O Fim de Uma Família Pela Inveja e a Cobiça. História fictícia de duas famílias que travam uma luta por questões de terra e tem um final inusitado.
 

Veja algumas estrofes:
(...)


Meu caro amigo leitor
Preste atenção nesta estória
De morte e de sofrimento
De injustiça e vitória
Onde o mal sai derrotado
E o bem finda na glória

No Rio Grande do Norte
Há muito tempo atrás
Morava uma família
De sobrenome capaz
De causar grande respeito
A velho, moço ou rapaz

Todo mundo respeitava
A família dos Ferreira
Porque todos desse clã
Tinham palavra certeira
Cumpriam seus compromissos
E amavam a paz verdadeira

E existia outra família
Que só vivia de briga
Pra arranjar uma encrenca
Eles não tinham fadiga
Onde um Gouveia passava
Deixava sempre uma intriga

(...)
José Acaci - espacodocordel@gmail.com