domingo, 19 de maio de 2013

SEGUNDO RESUMO DE DEZ CORDÉIS

         A Peleja do Velho com O Novo é um típico desafio de cantadores onde um defende a juventude e o outro mostra as qualidades da velhice. O cordel foi gravado por José Acaci, com a participação do poeta brincante Carlos Magno, fazendo o velho, e entrou para o CD "Do Cordel à Embolada".

Veja algumas estrofes observando que N= Novo e V= Velho.
(...)


N- Velho é um infortúnio,
é uma pedra na trilha,
só serve pra dar trabalho
cuspir e coçar virilha.
Todo velhinho acabado
devia ser descartado,
desprezado numa ilha.

V- Se assim você compartilha,
     responda sinceramente:
     Se tivesse que morrer
     Hoje, ou cem anos pra frente,
     qual você escolheria?
     Como você sairia
     desse dilema insolente?

N- O seu dilema é demente,
     você quer me enrolar
     pois velho só serve mesmo
     pra dormir e pra peidar,
     assistir televisão,
     fungar e cuspir no chão,
     discutir e resmungar.

V- Contigo vou concordar ,
     alguns vivem resmungando,
     mas se tivessem carinho
     não viviam reclamando
     das marcas e cicatrizes.
     Eram gentis e felizes,
     aprendendo e ensinando.
(...)

           O Rio Pitimbu nasce em Macaíba/RN, passa por Parnamirim/RN e deságua na Lagoa do Jiqui, em Natal/RN. As águas da Lagoa do Jiqui são tratadas e servem à população da zona sul de Natal. O Cordel A Saga do Pitimbu conta a história desse rio e da sua importância como manancial hídrico para o povo potiguar.




Lá no lugar da nascente
é “Rio do Lamarão”,
depois é “Rio dos Lustosa”,
e ao mudar de direção,
vira “Passagem de Areia”,
e segue molhando chão.

E vai marcando seu leito.
Seu vale cortando monte.
Na estrada de Macaíba,
passa debaixo da ponte,
retorna por ponte velha,
e some no horizonte.

Depois que passa Emaús,
nosso Pitimbu faz festa...
Segue molhando as raízes
de uma pequena floresta,
resquícios de Mata Atlântica
que por ali inda resta.

E quando chega à lagoa,
que é seu ponto final,
suas águas são bombeadas
pra um tratamento legal,
que é para matar a sede
do povo da capital.


       O próximo folheto traz duas histórias engraçadas: A Vingança de Maria, que é uma das mais pedidas nos eventos em que me apresento, e, Uma História de Corno, uma típica história que poderia ter acontecido com você. ( ou com qualquer um)
.
Veja estas estrofes de A Vingança de Maria
(...)


Chico já chegava em casa
brabo que só um leão,
com catinga de cachaça
e dizendo palavrão,
se Maria reclamava,
Chico já se levantava
com um cacete na mão.
(...)

Quando Maria morreu
seu corpo foi enterrado,
a alma chegou no céu
São Pedro tava sentado
olhando uma relação
com um caderno não mão
de cima a baixo anotado.

Maria disse: -“São Pedro,
Como é que eu faço para entrar?”
São Pedro olhou no caderno
e disse: -“É só soletrar
a palavra AMIZADE,
e depois tenha a bondade
de vir e se aconchegar.”
  (...)

Maria ficou sentada
Vendo o caderno estendido,
quando veio do portão
um grandioso alarido,
ela tremeu um bocado
quando viu que do outro lado
tava Chico, seu marido.
 
Agora veja estas de Uma História de Corno:


Numa tarde de dezembro

eu vinha todo empolgado,

João de Maria Preta,

veio, encostou do meu lado,

e disse:- “Zé Brocoió,

hoje vai ter um forró

e você ta convidado.”



“Porém nói vamo levar

quinze moça da cidade,

balançadora de anca,

forrozeira de verdade,

pra mode dançar forró,

é mió você ir só

pra curtir a nuvidade.”



Eu respondi:-“Eu vô nada,

pois não quero me arriscar

a pisar fora da linha

e Zefinha desconfiar.

Posso gostar de forró

mas, não troco meu xodó

por nada desse lugar.



E fui direto pra casa

pra esperar o momento

de chegar o grande dia,

o dia do casamento.

Era um sonho que ia e vinha,

mas, nem sonhei que Zefinha,

tinha outro pensamento.



Eita bichin traiçoeiro.

Veja só como é que é.

Eu saí da casa dela,

e ela me fez de Mané.

arranjou uma mutreta

com João de Maria Preta

e foi pro arrasta pé.
  (...)

      Antologia do Peido foi o primeiro cordel que eu publiquei, (no ano 2004). A xilogravura é de Abraão Batista, um famoso poeta de Juazeiro do Norte/CE. Esse cordel é famoso no Rio Grande do Norte e em outros estados pela maneira irreverente e engraçada que trata da questão da flatulência com exageros, mas,  sem palavrões.



Veja algumas estrofes:



Uns chamam o peido de vento,
sua catinga é fudum,
tendo cem pessoas perto
corre e não fica nenhum.
Coisa que ninguém controla,
o pobre chama de sola ,
e o rico chama de pum.

Existe o peido assobio,
e o peido metralhadora,
tem o peido musical
que vem da bunda cantora,
e o peido tipo bombinha,
que faz só a zoadinha
como bola quando estoura.

Tem o pum despreparado,
tem o pum farejador,
tem aquele aperreado
que sai na hora da dor,
e tem o mata soldado,
aquele que sai calado
é o peido matador.
(...)

Certa vez soltaram um peido
dentro da igreja matriz,
dez beatas desmaiaram
naquela noite infeliz,
deu mais de cem no hospital,
chorando, passando mal,
e sangrando pelo nariz.

(...)
Certa vez um homem disse
o peido não me governa,
segurou por quinze dias,
teve uma disfunção interna,
o peido foi tão danado
que ele bateu no telhado,
caiu e quebrou a perna.
 
          No ano 2010 lancei uma caixinha com dez cordéis voltados ao meio ambiente, que chamei de Série Cordel Ecológico, todos eles vão aparecer aqui no blog, porém na ordem alfabética. e em blocos de dez folhetos para não ficar muito cansativa a leitura. Para começar vem Aquecimento Global.

(...)



“-A história do universo
segue um roteiro informal,
uma lei da natureza
que é feita de forma tal,
que desviar não tem jeito.
Toda causa tem efeito,
todo mal, traz outro mal.

Cada bicho aqui da terra
têm seu corpo adaptado
ao calor e a umidade
que ele está acostumado,
e qualquer variação,
pode levá-lo à extinção
e deixá-lo exterminado.

Mas o bicho ser humano,
que diz ter inteligência,
desvia o curso dos rios,
e mostrando inconsciência,
em atitudes funestas,
toca fogo nas florestas,
e a terra pede clemência.

O fogo queimando as plantas
aumenta a temperatura,
polui o ar com fumaça,
e destrói a estrutura
do solo que escorrega,
e a chuva passa e carrega
cavando na terra dura.
(...)

      Depois de dar muitas gargalhadas ao assistir uma discussão de um bêbado com um motorista de ônibus, resolvi escrever um cordel contando a história, e, como sempre, quem conta um conto...
(...)


Um ônibus vinha passando
E de repente parou
A poucos metros de Zeca
E ele não titubeou
Cambaleou na carreira
Foi à porta dianteira
Fez finca pé e entrou.

Passou logo na roleta
Ficou em pé, agarrado
Lembrou daquela piada
E falou meio invocado
E apontando no contorno:
“-Desse lado, é tudo corno,
Do outro, é tudo veado !”

Um sujeito levantou-se
E falou de supetão
- “O senhor tenha respeito,
Pois, eu não sou corno não !”
Zeca disse: - “Então, veado,
Passe logo pro outro lado
E deixe de confusão !”

Nisso um rapaz reclamou
Dizendo: “-Dê-se ao respeito !
E outro disse:-“ Eu agora
Vou bater nesse sujeito.”
E escutou:“-Venha safado !
Eu sou “ f í i ” do delegado,
E sou “subrin” do prefeito”.
(...)

      As Lutas de Zé Pinduca Pra Arranjar Namorada é um cordel infantil com um enredo inspirado no provérbio popular: "Pra todo pé torto existe um chinelo velho", ou "Quem ama o feio, bonito lhe parece".
(...)


Zé Pinduca era um sujeito
baixinho , magro e feioso,
vivia sempre arrumado,
era muito vaidoso,
achava-se muito elegante,
pensava que era gostoso.

Os olhos aboticados,
o nariz de gavião,
o rosto magro e comprido,
orelha grande e um queixão,
quando uma criança via,
pensava:- É o bicho papão!

(...)

       Assédio Sexual é um folheto que, apesar do nome sério, trata-se de um causo matuto bem humorado e muito prazeroso. Escrito em décimas de sete, é daqueles que quando a gente começa a ler só para quando chega no ponto final.

(...)


Ana, aprumada e bonita
Como uma flor de cardeiro.
Antõe, meio desengonçado,
Era feio de corpo inteiro,
Mas quando Antõnho viu ana
Viu uma flor de gitirana,
E olhando a luz do luar,
Pensou olhando pra ela:
“-É com aquela donzela
Que eu desejo me casar.”

Aproximou-se de Ana
Com o seu jeito matuto
E, fazendo um elogio,
Lhe disse:“-Bendito é o fruto
De um ventre imaculado
Que com carinho e cuidado
Revelou sua beleza.                   
Moça você me agita,
És a coisa mais bonita
Que eu já vi na natureza.

Desculpe se por acaso
Eu lhe pareço enxerido
Porém, se acaso a senhora
Ainda não tiver marido,
Sou o primeiro da vez,
E qualquer dia do mês
Tô pronto pra me casar,
Se você quiser ser minha
Vai ser a minha rainha
Minha rainha do lar.”

Ana fez uma careta,
Deu logo uma rabissaca
E disse: “-Quer se casar?
Peça a mão duma macaca
Que é capaz dela aceitar
E com você se casar
Formando um belo casal.
Caia fora cabra feio,
Tire o focinho do meio
Que eu já tô passando mal.”

(...)

      Para entreter meus alunos do projeto "O Uso do Cordel na Sala de Aula", de vez em quando eu levava para eles perguntas retiradas de cordéis clássicos "As Perguntas do Rei e As Respostas de Camões" e "As Proezas de João Grilo". Quando essas perguntas esgotaram eu resolvi escrever algumas adivinhações em cordel, até que um dia eu descobri que já tinha perguntas suficientes para um cordel autoral, assim nasceu Brincando de Adivinhar.



As perguntas são numeradas e na última página tem todas as respostas. Veja algumas perguntas:

2
Ela é associada
a sangue, dor e fadiga.
Pra quem gosta de animal
é motivo de intriga.
O homem usa no pé,
mas machuca na barriga.
3
Responda: ─ Qual é a coisa
que é regrada pela hora,
que todo mundo conhece,
mas ninguém sabe onde mora,
nasce junto com o sol,
morre se ele vai embora?
7
Dando continuidade
me responda outra charada:
─ O que é bem redondinha,
tem a beira pregueada,
por fora fica sequinha,
por dentro fica molhada?

(...)
       O folheto Cem Anos de Gonzagão foi escrito para homenagear o centenário do nascimento de Luiz Gonzaga, em dezembro de 2012. O cordel foi bastante utilizado em escolas municipais e estaduais de Parnamirim/RN e outras cidades do RN. Um resumo do cordel, com 24 estrofes, foi publicado no livro "Luiz Gonzaga em Cordel" publicado pela Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel.



Luiz Gonzaga nasceu

em dezembro do bom ano

mil novecentos e doze, (1912)

dia treze, não me engano,

na cidade de Exu,

em solo pernambucano.



Sua mãe: Ana Batista,

deu-lhe carinho e amor,

e seu pai: Seu Januário,

que era um agricultor

no seu fole de oito baixos,

tinha seu grande valor.



Quando fez dezoito anos

Gonzaga se apaixonou

por Nazarena Delgado,

veja no que resultou:

O namoro não deu certo

e a vida dele mudou.



Quando o delegado soube

desse namoro tão forte,

mandou um recado a Lula

com ameaça de morte,

esse foi um dos motivos

que o fez deixar o Norte.

Para comprar estes ou outros cordéis de José Acaci entre em contato com o autor através do e-mail: espacodocordel@gmail.com

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