A Peleja do Velho com O Novo é um típico desafio de cantadores onde um defende a juventude e o outro mostra as qualidades da velhice. O cordel foi gravado por José Acaci, com a participação do poeta brincante Carlos Magno, fazendo o velho, e entrou para o CD "Do Cordel à Embolada".
Veja algumas estrofes observando que N= Novo e V= Velho.
(...)
N-
Velho é um infortúnio,
é
uma pedra na trilha,
só
serve pra dar trabalho
cuspir
e coçar virilha.
Todo
velhinho acabado
devia
ser descartado,
desprezado
numa ilha.
V-
Se assim você compartilha,
responda sinceramente:
Se tivesse que morrer
Hoje, ou cem anos pra frente,
qual você escolheria?
Como você sairia
desse dilema insolente?
N-
O seu dilema é demente,
você quer me enrolar
pois velho só serve mesmo
pra dormir e pra peidar,
assistir televisão,
fungar e cuspir no chão,
discutir e resmungar.
V-
Contigo vou concordar ,
alguns vivem resmungando,
mas
se tivessem carinho
não viviam reclamando
das marcas e cicatrizes.
Eram gentis e felizes,
aprendendo e ensinando.
(...)
O Rio Pitimbu nasce em Macaíba/RN, passa por Parnamirim/RN e deságua na Lagoa do Jiqui, em Natal/RN. As águas da Lagoa do Jiqui são tratadas e servem à população da zona sul de Natal. O Cordel A Saga do Pitimbu conta a história desse rio e da sua importância como manancial hídrico para o povo potiguar.
Lá no lugar da nascente
é “Rio do Lamarão”,
depois é “Rio dos Lustosa”,
e ao mudar de direção,
vira “Passagem de Areia”,
e segue molhando chão.
E vai marcando seu leito.
Seu vale cortando monte.
Na estrada de Macaíba,
passa debaixo da ponte,
retorna por ponte velha,
e some no horizonte.
Depois que passa Emaús,
nosso Pitimbu faz festa...
Segue molhando as raízes
de uma pequena floresta,
resquícios de Mata Atlântica
que por ali inda resta.
E quando chega à lagoa,
que é seu ponto final,
suas águas são bombeadas
pra um tratamento legal,
que é para matar a sede
do povo da capital.
O próximo folheto traz duas histórias engraçadas: A Vingança de Maria, que é uma das mais pedidas nos eventos em que me apresento, e, Uma História de Corno, uma típica história que poderia ter acontecido com você. ( ou com qualquer um)
.Veja estas estrofes de A Vingança de Maria
(...)
Chico já
chegava em casa
brabo que só
um leão,
com catinga
de cachaça
e dizendo
palavrão,
se Maria
reclamava,
Chico já se levantava
com um cacete
na mão.
(...)
Quando Maria
morreu
seu corpo foi
enterrado,
a alma chegou
no céu
São Pedro
tava sentado
olhando uma
relação
com um
caderno não mão
de cima a
baixo anotado.
Maria disse:
-“São Pedro,
Como é que eu
faço para entrar?”
São Pedro
olhou no caderno
e disse: -“É
só soletrar
a palavra
AMIZADE,
e depois
tenha a bondade
de vir e se
aconchegar.”
(...)
Maria ficou
sentada
Vendo o
caderno estendido,
quando veio
do portão
um grandioso
alarido,
ela tremeu um
bocado
quando viu
que do outro lado
tava Chico,
seu marido.
Agora veja estas de Uma História de Corno:
Numa tarde de
dezembro
eu vinha todo
empolgado,
João de Maria
Preta,
veio,
encostou do meu lado,
e disse:- “Zé
Brocoió,
hoje vai ter
um forró
e você ta
convidado.”
“Porém nói
vamo levar
quinze moça
da cidade,
balançadora
de anca,
forrozeira de
verdade,
pra mode
dançar forró,
é mió você ir
só
pra curtir a
nuvidade.”
Eu
respondi:-“Eu vô nada,
pois não
quero me arriscar
a pisar fora
da linha
e Zefinha
desconfiar.
Posso gostar
de forró
mas, não
troco meu xodó
por nada
desse lugar.
E fui direto
pra casa
pra esperar o
momento
de chegar o
grande dia,
o dia do
casamento.
Era um sonho
que ia e vinha,
mas, nem
sonhei que Zefinha,
tinha outro
pensamento.
Eita bichin
traiçoeiro.
Veja só como
é que é.
Eu saí da
casa dela,
e ela me fez
de Mané.
arranjou uma
mutreta
com João de
Maria Preta
e foi pro
arrasta pé.
(...)
Antologia do Peido foi o primeiro cordel que eu publiquei, (no ano 2004). A xilogravura é de Abraão Batista, um famoso poeta de Juazeiro do Norte/CE. Esse cordel é famoso no Rio Grande do Norte e em outros estados pela maneira irreverente e engraçada que trata da questão da flatulência com exageros, mas, sem palavrões.
Veja algumas estrofes:
Uns chamam o
peido de vento,
sua catinga é
fudum,
tendo cem
pessoas perto
corre e não
fica nenhum.
Coisa que
ninguém controla,
o pobre chama
de sola ,
e o rico
chama de pum.
Existe o
peido assobio,
e o peido
metralhadora,
tem o peido
musical
que vem da
bunda cantora,
e o peido
tipo bombinha,
que faz só a
zoadinha
como bola
quando estoura.
Tem o pum
despreparado,
tem o pum
farejador,
tem aquele
aperreado
que sai na
hora da dor,
e tem o mata
soldado,
aquele que
sai calado
é o peido
matador.
(...)
Certa vez
soltaram um peido
dentro da
igreja matriz,
dez beatas
desmaiaram
naquela noite
infeliz,
deu mais de
cem no hospital,
chorando,
passando mal,
e sangrando
pelo nariz.
(...)
Certa vez um
homem disse
o peido não
me governa,
segurou por
quinze dias,
teve uma
disfunção interna,
o peido foi
tão danado
que ele bateu
no telhado,
caiu e
quebrou a perna.
No ano 2010 lancei uma caixinha com dez cordéis voltados ao meio ambiente, que chamei de Série Cordel Ecológico, todos eles vão aparecer aqui no blog, porém na ordem alfabética. e em blocos de dez folhetos para não ficar muito cansativa a leitura. Para começar vem Aquecimento Global.
(...)
“-A
história do universo
segue
um roteiro informal,
uma
lei da natureza
que
é feita de forma tal,
que
desviar não tem jeito.
Toda
causa tem efeito,
todo
mal, traz outro mal.
Cada
bicho aqui da terra
têm
seu corpo adaptado
ao
calor e a umidade
que
ele está acostumado,
e
qualquer variação,
pode
levá-lo à extinção
e
deixá-lo exterminado.
Mas
o bicho ser humano,
que
diz ter inteligência,
desvia
o curso dos rios,
e
mostrando inconsciência,
em
atitudes funestas,
toca
fogo nas florestas,
e
a terra pede clemência.
O
fogo queimando as plantas
aumenta
a temperatura,
polui
o ar com fumaça,
e
destrói a estrutura
do
solo que escorrega,
e
a chuva passa e carrega
cavando
na terra dura.
(...)
Depois de dar muitas gargalhadas ao assistir uma discussão de um bêbado com um motorista de ônibus, resolvi escrever um cordel contando a história, e, como sempre, quem conta um conto...
(...)
Um ônibus
vinha passando
E de repente
parou
A poucos
metros de Zeca
E ele não
titubeou
Cambaleou na
carreira
Foi à porta
dianteira
Fez finca pé
e entrou.
Passou logo
na roleta
Ficou em pé,
agarrado
Lembrou
daquela piada
E falou meio
invocado
E apontando
no contorno:
“-Desse lado, é tudo corno,
Do outro, é tudo veado !”
Um sujeito
levantou-se
E falou de
supetão
- “O senhor tenha respeito,
Pois, eu não sou corno não !”
Zeca disse:
- “Então, veado,
Passe logo pro outro lado
E deixe de confusão !”
Nisso um
rapaz reclamou
Dizendo: “-Dê-se ao respeito !”
E outro
disse:-“ Eu agora
Vou bater nesse sujeito.”
E escutou:“-Venha safado !
Eu sou “ f í i ” do delegado,
E sou “subrin” do prefeito”.
(...)
As Lutas de Zé Pinduca Pra Arranjar Namorada é um cordel infantil com um enredo inspirado no provérbio popular: "Pra todo pé torto existe um chinelo velho", ou "Quem ama o feio, bonito lhe parece".
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
As Lutas de Zé Pinduca Pra Arranjar Namorada é um cordel infantil com um enredo inspirado no provérbio popular: "Pra todo pé torto existe um chinelo velho", ou "Quem ama o feio, bonito lhe parece".
(...)
Zé Pinduca
era um sujeito
baixinho ,
magro e feioso,
vivia sempre
arrumado,
era muito
vaidoso,
achava-se
muito elegante,
pensava que
era gostoso.
Os olhos
aboticados,
o nariz de
gavião,
o rosto magro
e comprido,
orelha grande
e um queixão,
quando uma
criança via,
pensava:- É o
bicho papão!
(...)
Assédio Sexual é um folheto que, apesar do nome sério, trata-se de um causo matuto bem humorado e muito prazeroso. Escrito em décimas de sete, é daqueles que quando a gente começa a ler só para quando chega no ponto final.
(...)
Ana, aprumada
e bonita
Como uma
flor de cardeiro.
Antõe, meio desengonçado,
Era feio de
corpo inteiro,
Mas quando
Antõnho viu ana
Viu uma flor
de gitirana,
E olhando a
luz do luar,
Pensou
olhando pra ela:
“-É com aquela donzela
Que eu desejo me casar.”
Aproximou-se
de Ana
Com o seu jeito
matuto
E, fazendo
um elogio,
Lhe disse:“-Bendito é o fruto
De um ventre imaculado
Que com carinho e cuidado
Revelou sua beleza.
Moça você me agita,
És a coisa mais bonita
Que eu já vi na natureza.
Desculpe se por acaso
Eu lhe pareço enxerido
Porém, se acaso a senhora
Ainda não tiver marido,
Sou o primeiro da vez,
E qualquer dia do mês
Tô pronto pra me casar,
Se você quiser ser minha
Vai ser a minha rainha
Minha rainha do lar.”
Ana fez uma
careta,
Deu logo uma
rabissaca
E disse: “-Quer se casar?
Peça a mão duma macaca
Que é capaz dela aceitar
E com você se casar
Formando um belo casal.
Caia fora cabra feio,
Tire o focinho do meio
Que eu já tô passando mal.”
(...)
Para entreter meus alunos do projeto "O Uso do Cordel na Sala de Aula", de vez em quando eu levava para eles perguntas retiradas de cordéis clássicos "As Perguntas do Rei e As Respostas de Camões" e "As Proezas de João Grilo". Quando essas perguntas esgotaram eu resolvi escrever algumas adivinhações em cordel, até que um dia eu descobri que já tinha perguntas suficientes para um cordel autoral, assim nasceu Brincando de Adivinhar.
As perguntas são numeradas e na última página tem todas as respostas. Veja algumas perguntas:
2
Ela é
associada
a
sangue, dor e fadiga.
Pra
quem gosta de animal
é
motivo de intriga.
O homem
usa no pé,
mas
machuca na barriga.
3
Responda:
─ Qual é a coisa
que é
regrada pela hora,
que
todo mundo conhece,
mas
ninguém sabe onde mora,
nasce junto
com o sol,
morre
se ele vai embora?
7
Dando
continuidade
me
responda outra charada:
─ O que
é bem redondinha,
tem a
beira pregueada,
por
fora fica sequinha,
por dentro
fica molhada?
(...)
O folheto Cem Anos de Gonzagão foi escrito para homenagear o centenário do nascimento de Luiz Gonzaga, em dezembro de 2012. O cordel foi bastante utilizado em escolas municipais e estaduais de Parnamirim/RN e outras cidades do RN. Um resumo do cordel, com 24 estrofes, foi publicado no livro "Luiz Gonzaga em Cordel" publicado pela Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel.
Luiz Gonzaga nasceu
em dezembro do bom ano
mil novecentos e doze, (1912)
dia treze, não me engano,
lá na cidade de Exu,
em solo pernambucano.
Sua mãe: Ana Batista,
deu-lhe carinho e amor,
e seu pai: Seu Januário,
que era um agricultor
no seu fole de oito baixos,
tinha seu grande
valor.
Quando fez dezoito anos
Gonzaga se apaixonou
por Nazarena Delgado,
veja no que resultou:
O namoro não deu certo
e a vida dele mudou.
Quando o delegado soube
desse namoro tão forte,
mandou um recado a Lula
com ameaça de morte,
esse foi um dos motivos
que o fez deixar o Norte.
Parabéns!
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