sábado, 25 de maio de 2013

TERCEIRO RESUMO DE DEZ CORDÉIS

       No ano 2007 um grupo de professoras de uma escola pública de Natal  me pediu para pesquisar e escrever sobre provérbios populares. Saí a cata de ditados, lembrei das expressões que mamãe gostava de dizer e, perguntando a um e a outro, nasceu Coisas Que Vovó Dizia.


Veja algumas estrofes:


Sempre prestei atenção
ao que minha vó dizia:
Na casa do homem honesto,
Deus é sempre o bom vigia.
Quem fica em paz em sua casa,
faz a melhor romaria.

A frase que lhe apresento
tem uma beleza rara:
“-Não há quem cuspa pra cima
que não lhe caia na cara.
doze palavras que mandam
uma mensagem tão clara.

Para dizer pro seu filho
pra ele ter mais cuidado
pra não se doar demais
e depois ser enganado:
Quem se mete a redentor,
termina crucificado.

       O folheto Conselhos Pra Juventude nasceu da observação de que meus alunos do projeto O Uso do Cordel na Sala de Aula estavam precisando de conselhos a respeito das boas relações pessoais, da conscientização em relação ao não uso de drogas, a valorização da vida e outros temas.

Três estrofes pra você ver:


Os jovens querem viver

em alta velocidade.
Não colocam nos seus planos
estudar na faculdade,
e querem ter mais dinheiro
do que têm capacidade.

É por isso que se vê
tanto rapaz se matando,
meninos vendendo drogas,
consumindo e traficando,
como se a vida deles
já estivesse acabando.
3
Tenha calma meu amigo,
que se você se cuidar,
dá para se divertir,
dá pra você estudar,
pra namorar, pra ter filhos,
viver a vida e gozar.

Tudo que se faz agora
sempre reflete depois.
Pra se chegar no milhão
sempre tem o “dois mais dois.”
No rumo do Caviar,
tem muito Feijão com Arroz!

Se lembre que você pode
viver mais de oitenta anos,
que você tem muito tempo
pra concretizar seus planos,
e sempre escute os mais velhos
pra não cometer enganos.

 







Se você ama sua vida
E pede a Deus pra que ela
Seja comprida e feliz
Rica, prazerosa e bela
Siga esse ponto de vista
Ao atravessar a pista
Use sempre a passarela

Não jogue o lixo nas ruas
Mantenha o lixo ensacado
Coloque no lugar certo
Pra ele ser resgatado
Pelo carro da coleta
Que o processo se completa
Quando ele for reciclado

Se acaso estiver num carro
Que esteja em movimento
Não jogue pela janela
Espere o certo momento
Depois que o carro parar
Você pode se livrar
Do lixo que está lá dentro


Mesmo com o carro parado
Não jogue o lixo no chão
Retire o lixo do carro
Pra colocar num latão
E assim vai mostrar ao mundo
Que você não é imundo
E que tem educação

       No ano dois mil e cinco o Brasil ficou estarrecido com a notícia do maior escândalo de corrupção da sua história: o escândalo do mensalão. Foi no auge do escândalo que escrevi o Cordel do Mensalão, que foi reproduzido aos milhares e levado para Brasília para ser utilizado em campanhas de protesto.


Curta algumas estrofes
 (...)


Dia catorze de maio
começou o burburinho,
um dos chefes dos correios
senhor Maurício Marinho
foi flagrado recebendo
três mil reais e metendo
no bolso do colarinho.

Mas Marinho não sabia
que estava sendo filmado,
falou que Roberto Jéferson,
conhecido deputado,
era quem roubava mais,
quatrocentos mil reais
todo mês era embolsado.

Roberto Jéferson, flagrado
no escândalo do correio,
imaginou:-“ Tô lascado!
o tirinete ta feio,
mas nessa eu não vou sozinho”
-saiu abrindo caminho
e puxando gente pro meio.

Disse que Marcos Valério,
um conhecido empresário,
dono de várias empresas
do ramo publicitário,
fazia a distribuição
das cotas do mensalão
pra político salafrário.
(...)

       Dois Matutos no Hospital é um cordel muito engraçado que conta a história da visita de dois matutos ao médico urologista. O folheto traz também o causo Uma Bichinha no Céu. Este é o meu único cordel que tem um palavrão, na verdade uma palavrinha com apenas duas letras, mas deixo aqui o alerta aos pudicos.

(...)


Chegaram lá no salão,
tinha gente pra danado
na porta do consultório,
tudo pra ser consultado.
Zé sentou numa cadeira
procurando uma maneira
de ficar acomodado.

Um homem deu um sorriso
e perguntou com humor,
se ele sabia o tamanho
do dedinho do doutor,
ele lhe respondeu: “- Não,
mas sei o tamanho da mão
que eu vou meter no senhor.”

Um gaiato lá do canto
gritou: “-Eita véio macho,
quero ver quando o doutor,
tiver com os dedos no cacho,
e o grandão catucando
fazendo volta e voltando,
botando fogo no facho.”
(...)
        Essa é uma história verdadeira que aconteceu em Florânia no Rio Grande do Norte, em meados de 1877. Uma briga de famílias de coronéis por posse de terras determinou morte de José Leão. A morte do rapaz causou indignação no povo da cidade pelo fato do corpo do rapaz ter sido queimado numa fogueira no dia do padroeiro de Floânia.

 (...)


Com o aval de João Toscano
João Porfírio chegou
e invadiu aquela terra
que José Leão herdou.
Agiu como cangaceiro,
foi chegando sorrateiro,
e dela se apossou.

Zé Leão ficou sabendo
e então mandou um recado
pedindo que João Porfírio
deixasse aquilo de lado,
mas ele não disse nada,
e em cada estaca fincada
botou um jagunço armado.

O povo da região
sentiu a coisa esquentando,
e só se via as pessoas
pelos cantos cochichando,
reclamando da cobiça
e da tamanha injustiça
que estava se passando.

Zé Leão ficou sabendo
como é que estava o cenário,
soube que João Toscano
era um latifundiário,
e coronel de patente,
que o próprio presidente
fez dele seu emissário.

(...)
O coronel João Porfírio
chamou um capanga seu
e lhe falando baixinho
esse recado lhe deu:
“_Prepare uma emboscada
e mate esse camarada,
resolva o problema meu.”

       Esse folheto traz duas  histórias engraçadas: O Advogado e O Guarda e O Advogado e o açougueiro. As duas histórias tratam da sutileza e das artimanhas que os advogados utilizam para ganhar suas questões.





Veja duas estrofes de O Advogado e o Guarda.
Tem um ditado que ouvi
Lá pras bandas do sertão
Que diz que advogado
Deve ter parte com o cão
Quando o bicho se inspira,
Verdade vira mentira,
E qualquer sim vira não. 
(...)


O capitão se virou
E disse ao advogado:
_Esse guarda nos chamou
E o senhor foi acusado
De roubo, de assalto, morte,
Porte de droga e por sorte
Nada disso foi achado.

E duas de O Advogado e o Açougueiro


Quando eu vi o rapazinho
Já fiquei todo orgulhoso,
Pensei: _Ele é muito esperto,
Porém eu sou mais tinhoso.
Pois eu cobrei muito mais
Ganhei quarenta reais.
Eita negócio rendoso.

Meter-se com advogado
Veja lá no que resulta:
Ao receber os cem contos
Eu vi que perdi a luta.
Grampeado numa fiança
Vi mil reais de cobrança
Pelo valor da consulta.
 

      No dia três de março de 2008 o Governo Federal  promulgou a lei 11.465 que determina que os temas afro-brasileiros e indígenas sejam conteúdos transversais obrigatórios no currículo escolar. Fui convidado pela secretaria de Educação de Parnamirim /RN para participar de um grupo de estudo sobre o tema e, ao final escrevi este folheto que foi reproduzido e entregue em todas as escolas do município para servir de material pedagógico.
 




Este ano, uma lei foi decretada.
Dia oito de março, com afinco,
nossa lei “onze – quatro - meia – cinco” *
foi bem lida, relida e aprovada.
E depois que ela foi sancionada,
no instante passou a vigorar.
Determina que se deva implantar
nos currículos da nossa educação,
elementos da miscigenação,
pra nova consciência despertar.

Essa lei no seu âmbito nos diz
que a ação deve ser obrigatória
dentro do conteúdo de história
e da literatura do país.
Nas artes deve ter sua raiz,
mas também se deve mencionar
em todo o currículo escolar,
entre seus conteúdos ministrados,
seus aspectos, seus rumos, seus legados,
sua cultura, seu mundo e seu lugar.

A História Dos Povos Africanos,
Os Aspectos Afro-Brasileiros,
Nossos Povos Indígenas Pioneiros,
suas lutas por anos e mais anos.
Devem ser colocados em seus planos
para ser estudados com afinco,
como o pano dobrado cria vinco,
nós vamos aprender essa lição
e aplicar na nossa educação,
essa lei “onze – quatro - meia – cinco”.

No final do cordel quero lembrar,
que depois que essa lei foi criada
a matéria passou a ser cobrada
nos concursos e no vestibular.
Se você quer se atualizar
como bom estudante ou professor,
passe agora a dar mais valor,
aprendendo e ensinando essa lição,
que estará dando pra nossa nação
uma aula de paz e de amor.
        FIM*(lei 11.465 de 03.03.2008)

       Quando eu era criança, muitas vezes fui à Lagoa das Pedras para jogar bola no campinho, tomar banho ou pescar piabas. No ano dois mil e nove fui a Igreja Nova, um lugarejo próximo a Macaíba/RN e, ao passar próximo à lagoa resolvi visitá-la. O cordel Lagoa da Minha Infância retrata o que vi e a minha indignação ao observar as mudanças que ocorreram no ambiente.


Veja algumas estrofes:



Sem crer naquilo que vi,
andei sem olhar pro chão,
e, sem querer, tropecei
num pneu de caminhão,
mas veja só como é,
o machucão, foi no pé,
mas, a dor, no coração.

O pneu fazia parte
da mudança na estrutura.
A margem verde e macia
tava seca, suja e dura.
Eu tinha na minha mente
água limpa e transparente,
tava barrenta e escura.

Vi que ao redor da lagoa
a mata foi derrubada,
cortaram os pés de mangaba
onde eu via a revoada
de rolinha e juriti.
E o galho onde o bem-te-vi
fazia sua morada.

Lá do lado da praínha,
vi o mais triste cenário.
Cortaram a velha umburana,
que era sombra do estuário.
Achando ser esperteza,
destruíram a natureza
pra fazer um balneário.

Resolvi ver mais de perto.
Encostei-me ao ambiente,
e vi foi saco de plástico,
camisinha, absorvente,
matérias não degradáveis,
copos brancos descartáveis,
e até cocô de gente. 



       O Caga Sebite, conhecido também por Sebite, é um pássaro pequeno que tem as mesmas cores do Bem-te-vi. Papo amarelo, asas pretas e riscos brancos na cabeça. A diferença está no tamanho do corpo e no canto. O canto do Sebite é bonito e longo. Até pouco mais de dez anos essa ave era comum no litoral e nos seus arredores, porém nos últimos anos tornou-se raro vê-lo pelos pomares e coqueirais de fundos de quintal dos arredores das cidades, reflexo da poluição sonora, da poluição do ar, da diminuição da quantidade de alimentação e da ganância do homem que, ao notar que ele tornou-se animal raro, passou a capturá-lo para vendê-lo em feiras. Este cordel é minha homenagem a esse pequeno pássaro.




Algumas estrofes:
(...)

Pássaro pequeno e amarelo...
Tinha muitos por aqui.
Nos pés de seri-güela,
nos galhos de sapoti.
Cantava sem paralelo,
com seu papinho amarelo,
parecendo um bem-te-vi.

Ele alegrava as manhãs.
E animava corações.
Solfejando as belas notas
das mais bonitas canções,
e vinha fazer poleiros
nos galhos dos cajueiros,
que nasciam nos oitões.

O homem foi construindo...
Um loteamento, um acesso,
um condomínio, uma casa;
e durante esse processo,
cortaram a velha mangueira,
um coqueiro, uma jaqueira,
tudo em nome do progresso.

Nos pés das cercas de vara,
nasciam pés de melão,
e, ali, eles achavam
sua alimentação,
mas o progresso tirano,
levou o melão caetano,
e o sebite à extinção.



(...)

José Acaci

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