terça-feira, 14 de maio de 2013

POESIAS DO LIVRO CONSENHOS PRA JUVENTUDE

O projeto O Uso do Cordel na Sala de Aula teve início no ano 2006 e, desde então, vem sendo aplicado em escolas públicas da cidade de Parnamirim/RN. No ano 2010 o poeta José Acaci juntou num livro alguns trabalhos criados para serem apresentados em salas de aula do projeto, daí nasceu Conselhos Pra Juventude, um livro que tem a participação de vários nomes da poesia potiguar comentando cada trabalho e enaltecendo ainda mais a poesia nordestina e o trabalho de José Acaci. Veja abaixo alguns cordéis e poesias.





       
CONSELHOS PRA JUVENTUDE
José Acaci



Quando falta inspiração
pra escrever cordel novo,
eu me sinto agoniado
que nem um pinto no ovo,
e saio no “mei” do mundo,
pra conversar com o povo.

Puxo prosa com um matuto,
converso com um cidadão,
ouço a palavra d’um jovem,
discuto com ancião,
e, de conversa em conversa,
me vem a inspiração.

Eu já vi gente dizendo
que a situação tá ruim.
Já vi beata falando
que o mundo chegou ao fim.
E vi cabra engravatado
botando a culpa em Caim.

Ouvi falar de família
separada e desunida.
De casais indo pra cama
sem um projeto de vida,
e da nossa juventude
completamente perdida.

Notando a falta de amor
de carinho e de virtude,
quero aproveitar os versos
do meu cordelzinho rude
pra mandar o meu recado
para essa juventude.

Só quero dar uns conselhos
pra você, adolescente.
Você que tem uma vida,
um futuro pela frente,
mas não pensa nos reflexos
de cada ato da gente.

Os jovens querem viver
em alta velocidade.
Não colocam nos seus planos
estudar na faculdade,
e querem ter mais dinheiro
do que têm capacidade.

É por isso que se vê
tanto rapaz se matando,
meninos vendendo drogas,
consumindo e traficando,
como se a vida deles
já estivesse acabando.

Tudo que se faz agora
Sempre reflete depois
Pra se chegar no milhão
Sempre tem o dois mais dois.
E “No rumo do Caviar,
Tem muito Feijão com Arroz!

Tenha calma, meu amigo,
que se você se cuidar,
dá para se divertir,
dá pra você estudar,
pra namorar, pra ter filhos,
viver a vida e gozar.

Se lembre que você pode
viver mais de oitenta anos,
que você tem muito tempo
pra concretizar seus planos,
e sempre escute os mais velhos
pra não cometer enganos.

Aprenda a viver de bem.
Aprenda a dizer um “não”.
E aprenda a perdoar,
perdoar de coração.
E, mais do que perdoar,
aprenda a pedir perdão.

Faça um trato com a verdade,
desminta o que já mentiu,
e apague qualquer resquício
de ódio que já sentiu.
Não se cura uma ferida,
ferindo quem lhe feriu.

Se não sabe perdoar
peça a Deus em oração,
pois quem perdoa se livra
de um peso no coração.
Perdoar não pesa nada,
pesado é pedir perdão.

O passado é sua história,
ficou no seu consciente.
O futuro é um mistério,
que exige ser paciente.
Mas o “agora” é divino,
por isso que é “presente.”

Finalizo desejando
para essa mocidade:
que vocês tenham juízo,
saúde e prosperidade,
e botem no coração,
coragem, paz, união,
respeito, amor e bondade.       FIM.



SÓ SE DÁ VALOR A UM POVO
SE O POVO SE DER VALOR
                          José Acaci   


Eu nasci lá no sertão,
e cresci sem dar valor
a falar de eleição,
prefeito ou vereador.
Já com vinte e cinco anos
na vida não tinha planos,
até aqueles momentos,
mas chegou um primo meu
e logo me convenceu
a tirar os documentos.

Fui tirar lá na cidade:
Carta de trabalhador,
CPF, identidade,
e título de eleitor.
Voltei lá pro meu sertão
e guardei num matulão,
feito de couro de boi,
daí veio o meu atraso.
Se quer conhecer o caso,
vou lhe contar como foi.

Um sujeito topetudo
chegou entregando foto
e prometendo de tudo,
se eu lhe vendesse o meu voto.
Disse que era prefeito,
e queria dar um jeito
de se eleger de novo,
pra dar continuidade,
trazendo o bem pra cidade,
e progresso para o povo.

Quando ele fez o assédio,
já chamei pra fazer rolo.
Pedi dinheiro, remédio,
telha, cimento e tijolo.
Ele cumpriu a promessa
e eu mais do que depressa
vendi por quase de graça,
peguei todo o apurado,
juntei-me com meu cunhado,
tomei “todim” de cachaça.

Naquele fim de semana
teve festa divertida
do povo gastando a grana
que lhe foi oferecida.
Todo mundo satisfeito
elogiando o sujeito.
E no meio dessa festa,
vez em quando um se animava,
abria a boca e gritava:
 “_Ô home bom da mulesta.”

O povo lá no salão:
Só falava em prefeitura,
vereador, sacolão,
transferência e dentadura...
Todos muito agradecidos
dos presentes recebidos
do candidato a prefeito.
No dia da votação,
cumpriram sua missão,
e o sujeito foi eleito.

Depois daquele momento
minha filha adoeceu...
Por falta de atendimento
minha criança morreu.
Faltava saneamento,
e ela, brincando ao relento,
pagou essa triste sina.
Aquele lixo espalhado
e a falta de cuidado,
mataram minha menina.

Vendo a dor da criancinha,
fiz de tudo quanto pude,
mas no meu bairro não tinha
nem um posto de saúde.
Vi o hospital fechado
com uma faixa de lado,
dizendo: “Estamos em Greve”.
E, lá na frente, um sujeito,
pedindo que o prefeito
lhe pagasse o que lhe deve.

Chorando as dores do amor
que deixei no cemitério,
refleti na minha dor,
que voto é um caso sério.
E quando estava voltando,
eu fiquei observando,
as ruas de lado a lado,
e meu olho encheu de pranto
quando eu vi que em todo canto
tinha lixo acumulado.

Notei que toda pobreza
que gerou essa imprudência,
não é maior que a tristeza
da falta de consciência.
Tive conscientização
que a falta de educação,
e a filha que perdi,
é tudo muito conexo,
e que aquilo era o reflexo
do voto que eu vendi.

E me lembrei da ganância
dos homens engravatados
que vivem da ignorância
daqueles pobres coitados,
que no tempo da política
aceitam sem fazer crítica
trocar voto por dinheiro,
que faz falta na gestão
da  saúde e educação
desse povo brasileiro.

Quando for votar de novo,
Lembre, meu caro eleitor:
Só se dá valor a um povo,
se o povo se der valor.
Se você trocar seu voto
por gasolina de moto,
sacolão ou aguardente,
estará colaborando,
ou, quem sabe, até causando
a morte de um inocente.
  FIM.
Contato com o autor: espacodocordel@gmail.com



   






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