CONSELHOS PRA JUVENTUDE
José Acaci
Quando falta inspiração
pra escrever cordel novo,
eu me sinto agoniado
que nem um pinto no ovo,
e saio no “mei” do mundo,
pra conversar com o povo.
Puxo prosa com um matuto,
converso com um cidadão,
ouço a palavra d’um jovem,
discuto com ancião,
e, de conversa em conversa,
me vem a inspiração.
Eu já vi gente dizendo
que a situação tá ruim.
Já vi beata falando
que o mundo chegou ao fim.
E vi cabra engravatado
botando a culpa em Caim.
Ouvi falar de família
separada e desunida.
De casais indo pra cama
sem um projeto de vida,
e da nossa juventude
completamente perdida.
Notando a falta de amor
de carinho e de virtude,
quero aproveitar os versos
do meu cordelzinho rude
pra mandar o meu recado
para essa juventude.
Só quero dar uns conselhos
pra você, adolescente.
Você que tem uma vida,
um futuro pela frente,
mas não pensa nos reflexos
de cada ato da gente.
Os jovens querem viver
em alta velocidade.
Não colocam nos seus planos
estudar na faculdade,
e querem
ter mais dinheiro
do que
têm capacidade.
É por isso que se vê
tanto rapaz se matando,
meninos vendendo drogas,
consumindo e traficando,
como se a vida deles
já estivesse acabando.
Tudo que se faz agora
Sempre reflete depois
Pra se chegar no milhão
Sempre tem o dois mais dois.
E “No
rumo do Caviar,
Tem
muito Feijão com Arroz!”
Tenha calma, meu amigo,
que se você se cuidar,
dá para se divertir,
dá pra você estudar,
pra namorar, pra ter filhos,
viver a vida e gozar.
Se lembre que você pode
viver mais de oitenta anos,
que você tem muito tempo
pra concretizar seus planos,
e sempre
escute os mais velhos
pra não
cometer enganos.
Aprenda
a viver de bem.
Aprenda
a dizer um “não”.
E aprenda a perdoar,
perdoar de coração.
E, mais do que perdoar,
aprenda a pedir perdão.
Faça um trato com a verdade,
desminta o que já mentiu,
e apague qualquer resquício
de ódio que já sentiu.
Não se
cura uma ferida,
ferindo
quem lhe feriu.
Se não sabe perdoar
peça a Deus em oração,
pois quem perdoa se livra
de um peso no coração.
Perdoar
não pesa nada,
pesado
é pedir perdão.
O passado é sua história,
ficou no seu consciente.
O futuro é um mistério,
que exige ser paciente.
Mas o
“agora” é divino,
por
isso que é “presente.”
Finalizo desejando
para essa mocidade:
que vocês tenham juízo,
saúde e prosperidade,
e botem no coração,
coragem, paz, união,
respeito, amor e bondade. FIM.
SÓ
SE DÁ VALOR A UM POVO
SE
O POVO SE DER VALOR
José Acaci
Eu
nasci lá no sertão,
e
cresci sem dar valor
a
falar de eleição,
prefeito
ou vereador.
Já
com vinte e cinco anos
na
vida não tinha planos,
até
aqueles momentos,
mas
chegou um primo meu
e
logo me convenceu
a
tirar os documentos.
Fui
tirar lá na cidade:
Carta
de trabalhador,
CPF,
identidade,
e
título de eleitor.
Voltei
lá pro meu sertão
e
guardei num matulão,
feito
de couro de boi,
daí
veio o meu atraso.
Se
quer conhecer o caso,
vou
lhe contar como foi.
Um
sujeito topetudo
chegou
entregando foto
e
prometendo de tudo,
se eu lhe vendesse o meu voto.
Disse
que era prefeito,
e
queria dar um jeito
de
se eleger de novo,
pra
dar continuidade,
trazendo
o bem pra cidade,
e
progresso para o povo.
Quando
ele fez o assédio,
já
chamei pra fazer rolo.
Pedi
dinheiro, remédio,
telha,
cimento e tijolo.
Ele
cumpriu a promessa
e
eu mais do que depressa
vendi
por quase de graça,
peguei
todo o apurado,
juntei-me
com meu cunhado,
tomei
“todim” de cachaça.
Naquele
fim de semana
teve
festa divertida
do
povo gastando a grana
que
lhe foi oferecida.
Todo
mundo satisfeito
elogiando
o sujeito.
E
no meio dessa festa,
vez
em quando um se animava,
abria
a boca e gritava:
“_Ô home bom da mulesta.”
O
povo lá no salão:
Só
falava em prefeitura,
vereador,
sacolão,
transferência
e dentadura...
Todos
muito agradecidos
dos
presentes recebidos
do
candidato a prefeito.
No
dia da votação,
cumpriram
sua missão,
e
o sujeito foi eleito.
Depois daquele momento
minha filha adoeceu...
Por falta de atendimento
minha criança morreu.
Faltava saneamento,
e ela, brincando ao relento,
pagou essa triste sina.
Aquele lixo espalhado
e a falta de cuidado,
mataram minha menina.
Vendo
a dor da criancinha,
fiz
de tudo quanto pude,
mas
no meu bairro não tinha
nem
um posto de saúde.
Vi
o hospital fechado
com
uma faixa de lado,
dizendo:
“Estamos em Greve”.
E,
lá na frente, um sujeito,
pedindo
que o prefeito
lhe
pagasse o que lhe deve.
Chorando
as dores do amor
que
deixei no cemitério,
refleti
na minha dor,
que
voto é um caso sério.
E
quando estava voltando,
eu
fiquei observando,
as
ruas de lado a lado,
e
meu olho encheu de pranto
quando
eu vi que em todo canto
tinha
lixo acumulado.
Notei
que toda pobreza
que
gerou essa imprudência,
não
é maior que a tristeza
da
falta de consciência.
Tive
conscientização
que
a falta de educação,
e
a filha que perdi,
é
tudo muito conexo,
e
que aquilo era o reflexo
do
voto que eu vendi.
E me lembrei da ganância
dos homens engravatados
que vivem da ignorância
daqueles pobres coitados,
que
no tempo da política
aceitam
sem fazer crítica
trocar
voto por dinheiro,
que
faz falta na gestão
da saúde e educação
desse
povo brasileiro.
Quando
for votar de novo,
Lembre,
meu caro eleitor:
Só se dá valor a um
povo,
se o povo se der valor.
Se
você trocar seu voto
por
gasolina de moto,
sacolão
ou aguardente,
estará
colaborando,
ou,
quem sabe, até causando
a
morte de um inocente.
FIM.
Contato com o autor: espacodocordel@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário